No texto anterior abordamos sobre a linguagem diminuta, e agora, na segunda parte, vamos falar sobre sensacionalismo, este que também está enraizado na cultura da educação e entretenimento infantil, promovendo uma linguagem que, erroneamente, é considerada normal e adequada.
“Super feliz”, “mega legal”, “melhor do mundo”, “espetacular”... expressões comuns que achamos normais, mas talvez você nunca tenha parado para pensar o que elas realmente comunicam aos pequenos, pois sempre foi assim nas histórias infantis. Usar esse tipo de linguagem com muita frequência ou na hora errada pode causar os mais variados efeitos.
Quando utilizada frequentemente, causa o efeito de ofuscamento. Se tudo é especial, nada é especial, pois não há contraste entre as coisas normais e as coisas realmente especiais. Não há diferenciação entre as intensidades das emoções. Se todas as cenas e situações da história são “muito felizes”, “super legais” e “maravilhosas”, onde estão as situações normais? Imagine que você vá a um restaurante apenas para comer as sobremesas. O raciocínio é o mesmo.
O sensacionalismo não faz as histórias ficarem mais interessantes, muito pelo contrário, as torna repetitivas, maçantes e chatas. Além de não produzir crescimento, essa linguagem faz a saúde intelectual infantil regredir.
O que faz um livro ser bom? Uma narrativa interessante, personagens com personalidade, cenas divertidas, situações desafiadoras, intrigantes e inusitadas. Portanto, podemos dizer que o fator principal é o conteúdo.
Sendo assim, não há linguagem que salve um conteúdo pobre. Frases de efeito, superlativos, exageros espetaculares e maravilhosos não possuem o poder de transformar uma história.
É como se alguém tentasse te forçar a escutar uma música ruim. Ao invés de trocar a música, ele vai lá e aumenta o volume. A literatura ao invés criar histórias mais criativas e interessantes, tenta impressionar as crianças forçadamente, através de um conteúdo pobre com uma linguagem "enfeitada".
Nas histórias da Editora Laranjeira existe uma preocupação séria a respeito do grau das emoções e sentimentos transmitidos, visando se aproximar do natural e espontâneo.
Ao contrário de tentar forçar sensações, as cenas são apresentadas de forma que o leitor determine se algo é "normal", "legal" ou "super legal". Quem manda é o imaginário da criança, e não a nossa ânsia de tentar impressioná-la.
Observe alguns exemplos:
Em vez de usarmos:
“Uma árvore super grandona!"
Usamos:
“Uma grande árvore."
Em vez de:
“Estava super empolgada para beber água."
Usamos:
“Estava com vontade de beber água."
Em vez de:
“Ficou muito feliz ao ganhar um brinquedo."
Usamos:
“Ficou feliz ao ganhar um brinquedo."
(Expressando desta forma, o imaginário ainda está livre para criar a intensidade do sentimento, sem uma predeterminação exagerada. A criança ainda poderá imaginar entre "feliz", "muito feliz" ou "super feliz", de acordo com o que a narrativa está produzindo em seu imaginário.)
Crianças não são robôs ou uma massa homogênea, o que é interessante para uma pode não ser para outra. É por isso que o conteúdo da Editora Laranjeira leva a sério a criatividade e o imaginário. Os livros não visam determinar o que a criança deve pensar ou fazer, muito pelo contrário. As histórias fornecem os recursos básicos para que a criança imagine o que quiser, livremente.
Sendo assim, a linguagem, o conteúdo e a relação entre os dois exige um trabalho árduo e complexo. Logo, esse é o caminho que a Editora Laranjeira está seguindo para oferecer um produto digno do consumidor final. Cuidando de cada palavra escrita, para que o desenvolvimento das crianças seja efetivo.