Existe um tipo de linguagem que acabou se tornando o padrão para o público infantil, e, pela conveniência, passou a ser considerada como normal. Na verdade, pode soar até estranho pensar que existe outra possibilidade além daquilo que está enraizado na educação e entretenimento.
“Cadeirinha”, “mesinha”, “comidinha”... esse linguajar diminutivo é uma forma ineficiente de tentar se aproximar e se comunicar com os infantes. Os adultos usam essa linguagem porque creem estar se adaptando ao universo infantil. Mas na verdade, as crianças não gostam, ou pelo menos não veem essa comunicação como natural.
Observe a forma como uma criança se comunica. Na conversação do dia a dia a própria criança não fala “cadeirinha”, “mesinha”; ela fala “cadeira”, “mesa”. A não ser, é claro, que realmente esteja se referindo a uma cadeira pequena ou uma mesa pequena. Os adultos usam essa linguagem porque acham fofo e legal, mas o que está acontecendo é que eles se sentem bem dessa forma e tentam forçar os pequenos a compartilharem do mesmo sentimento. Quando os adultos se comunicam assim, estão dialogando mais consigo mesmos do que com a própria criança, sem perceber que os infantes preferem uma linguagem comum e natural.
As crianças são primitivas, literais e normalmente não compreendem as subjetividades e nuances que fazem parte da comunicação adulta. Quando digo "cadeirinha", quero que a criança entenda subjetivamente que, ao falar no diminutivo, estou supostamente falando na linguagem dela. Quero que se desfaça da linguagem normal e natural que já possui para falar comigo em uma linguagem irreal que, aparentemente, seria melhor para ela.
Observe o tamanho da complexidade que nós criamos ao tentar nos adaptar, quando na verdade não precisamos fazer nada, basta sermos naturais.
Eu, particularmente, não uso o linguajar diminuto em conversas com crianças, nem aquele tom de voz especial "apropriado" para pequenos. Uso uma linguagem habitual e um tom usual, como se estivesse falando com um adulto. Já o conteúdo, trata-se de uma conversa bem simples, clara e objetiva, apropriada ao contexto infantil.
O que observo nessas conversações é que consigo obter tranquilamente a atenção e o respeito da criança, até mais que a dos pais, algumas vezes. O que acontece é que abro espaço para a criança conversar de volta sem interferências. Não tento forçar um linguajar fofinho, nem inserir meus desejos nela para que responda da forma que gosto, ou converse da forma como julgo que ela deveria conversar. Na maioria das vezes tenho boas experiências e conversas tranquilas — acredito que o segredo é ouvir mais e falar menos.
Da mesma forma que temos a linguagem diminuta nas conversas, observamos também na literatura. A Editora Laranjeira, tendo consciência disso, não segue os padrões e tendências do mercado. Portanto, na criação das histórias, não se utiliza deste linguajar, que muitas vezes acaba afastando e confundindo o imaginário infantil.
Os livros da Editora Laranjeira utilizam uma comunicação clara e objetiva, respeitando a natureza infantil e proporcionando um imaginário livre de interferências e ruídos.
Observe que estamos falando sobre a linguagem e não sobre o conteúdo, pois este, sim, extrapola todas as barreiras do contraditório e do absurdo: peixes voam, árvores falam, frutas possuem braços e demais fantasias.
Adequar a linguagem é como sintonizar um canal de rádio: o canal correto proporciona a transmissão e o entendimento do conteúdo. A linguagem correta proporciona a comunicação e a compreensão da literatura.
A linguagem diminuta é o que mais vemos nos padrões e tendências da educação e entretenimento. Esta se propõe a adaptar e a aproximar do público infantil, porém, no resultado final, acontece o oposto, gerando afastamento e confusão.
(No texto a seguir temos a parte 2, onde falaremos sobre "Sensacionalismo")
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— Daniel Bitencourt, fundador.
19/12/2023